Por: Sonielly Farias
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“Eu me senti como se estivesse saindo de uma caverna, a caverna de quem
falara Platão. E vê um mundo que eu não conhecia”. Empolgado e cheio de vida, Melhym Quemel de 51 anos, faz questão de contar de que forma aprendeu a enxergar o
mundo com outros olhos. Agora com o tato mais sensível e a audição mais apurada, o consultor de Tecnologia da Informação mostra que não há limites quando o
assunto é superação.
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Melhym Quemel, 51 anos. Consultor de Tecnologia da Informação e acadêmico do Curso de Direito |
Com o sorriso no rosto e as mãos cheio de medalhas, Quemel conta cada
detalhe de suas conquistas. Mas lembra que a trajetória não foi nada fácil
quando já na fase adulta se tornou um PCD (Pessoa com Deficiência).
Em 2002, Quemel perdeu a visão total em um acidente automobilístico no Rio de
Janeiro, lugar onde atuava como empresário no ramo de Tecnologia
da Informação e proprietário de um provedor de internet na cidade de Saquarema.
Após várias cirurgias sem sucesso para recuperar a visão, o carioca
então decidiu se afastar do agito da “cidade grande”. “Eu ficava muito tempo
deitado, ocioso, não fazia quase nada. Eu queria fazer alguma coisa. Como meus
pais são paraenses em 2006 desativei minhas atividades no Rio e fui para o
município de Tome-Açú no Pará com minha família para ‘espairecer’ e conhecer
meus familiares”, confessa.
As superações começaram a ganhar forma na vida do consultor. Após a
drástica mudança de vida, Quemel percebeu que ainda conseguia trabalhar
prestando consultoria via telefone para alguns clientes. “Em uma semana
consegui resolver 80% dos problemas de uma empresa. A partir de então novas oportunidades
foram surgindo. No ano de 2008 me mudei com minha família para o município de
Bragança onde tinha recebido uma proposta de emprego nessa área de
informática”, conta.
Uma grande oportunidade ainda estava por vir e Quemel não imaginava o universo que o aguardava. Em 2013, um anúncio na televisão sobre um curso de Informática para Cegos no Senai iria alavancar os sonhos do carioca.“Fiquei tão empolgado e já vi que podia fazer alguma coisa. Eu vi que dava para voltar a estudar, me senti um adolescente, Para mim tudo era novidade, ” fala Quemel.
Flora Barbosa, Interlocutora Regional do PSAI (Programa Senai de Ações Inclusivas) explica que esse foi um momento que o Senai de Bragança começou a oferecer cursos adaptáveis aos deficientes visuais o que impulsionou muito a vida de Quemel. “Foi logo no ano que implantamos esse programa de Informática para cegos nos computadores. Depois que ele teve contato com o curso, e aprendeu a utilizar o computador e a internet, ninguém segurou mais ele! ”, lembra.
Flora Barbosa, Interlocutora Regional do PSAI (Programa Senai de Ações Inclusivas) explica que esse foi um momento que o Senai de Bragança começou a oferecer cursos adaptáveis aos deficientes visuais o que impulsionou muito a vida de Quemel. “Foi logo no ano que implantamos esse programa de Informática para cegos nos computadores. Depois que ele teve contato com o curso, e aprendeu a utilizar o computador e a internet, ninguém segurou mais ele! ”, lembra.
Quemel começou a se utilizar de outros recursos para aprendizagem, transcrição de texto para áudio possibilitou em muito o desenvolvimento para outros programas oferecidos pela informática e a internet. Se orgulha em dizer que a partir desse curso, hoje consegue executar tarefas melhor que muitas pessoas que possuem a visão em perfeito estado. Para ele o progresso só estava a começar.
Em maio de 2014, competiu na etapa estadual para as Olimpíadas do Conhecimento em Belém- Pa. O consultor ganhou 1ª colocação na categoria "Tecnologia da Informação para PCD". O que também rendeu ao aluno neste mesmo evento o 1ª lugar geral pela maior pontuação obtida sobre todas as 9 ocupações.
Com os altos índices de pontuação e destaque em sua categoria, em setembro de 2014, o aluno foi convidado a ser representante do estado do Pará nas Olimpíadas do Conhecimento em Minas Gerais . Na disputa de nível nacional, conquistou o 5º lugar geral . Para ele os níveis de competição para um PCD são também elevadíssimos, porém o Senai deu toda a estrutura e suporte necessário ao candidato: “O Senai me deu o curso gratuitamente, me deu uma bengala. Pagou alguém para me ensinar a usá-la, me deu uma roupa específica para a competição e me deu treinamento. Enquanto muitas vezes temos que investir para aprender, o Senai que investiu em mim, nunca esperou nada em troca. Pelo contrário a instituição fica feliz em ver o progresso de seus alunos” afirma.
Enquanto conseguia legitimar novas vitórias, Quemel foi desafiado a novas experiências. Ainda este ano (2016) em Workshop promovido pelo Senai, Quemel foi convidado para ser o mestre de cerimônias do evento. Com o notebook ligado a um transcritor de texto, a plateia não imaginava a deficiência visual do apresentador. “Na hora gelei! Mas eu pensei não vou correr do desafio. Vou adaptar o fone a velocidade do leitor de tela. Assim eu fiz fui ouvindo e repetindo. Fiz as congratulações, as apresentações e o evento foi correndo naturalmente.” explica.
Ao final, Flora lembra de como a plateia ficou surpresa ao saber que o mestre de cerimônia era um deficiente visual. “Ao final da apresentação do evento, foi que as pessoas perceberam que ele era cego porque ele confessou. Ninguém tinha percebido e ficou todo mundo de boca aberta. Então as pessoas não imaginam que qualquer pessoa com deficiência tem potencial. E as PCDs tem essa necessidade de estar sempre se superando, eles criam o hábito de se superar.”
Ao longo de quase 15 anos com a deficiência, novas possibilidades se apresentaram na vida do consultor. Em 2015 Melhym iniciou os estudos na faculdade. Hoje é acadêmico no 2º semestre do curso de Direito e representante de turma. O PCD prova a partir de sua vivência que as surpresas da vida não são capazes de impedir os sonhos de qualquer pessoa, basta uma oportunidade e saber agarrá-la. Depois que "saiu da caverna", Quemel está desvendando um mundo que não conhecia, o mundo da superação.
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