quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A Paixão pela Amazônia de Marcilene Rodrigues

Por: Daniele Maciel
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 Daniele Maciel

De pele branca, olhos azuis e cabelos loiros a designer de joias Marcilene Rodrigues, natural do interior de Itaituba, no oeste do Pará escreveu uma nova história a partir do encantamento pelos trabalhos manuais. Os trabalhos como psicóloga nos consultórios médicos ficaram de lado para se dedicar as biojoias, na busca de evidenciar a cultura paraense e na versatilidade que são empregadas em cada peça.

As peças de autoria da designer ganharam visibilidade no Pará, no Brasil e no Mundo. O despertar por trabalhos manuais não é algo de hoje. “Desde pequena eu sempre gostei de trabalho manual, trabalhava com artesanato e assessórios desde os quatorze anos, eu lembro quando me deram 20 reais ai eu pedi para minha mãe me levar para comprar um kit de fazer bijuteria. Nossa, pronto, me apaixonei!”, declarou.

Em 2007, iniciou o curso de ourivesaria, na escola Rahma, oferecido pelo Polo Joalheiro do Pará. Segundo Marcilene, é fundamental aprender manusear a peça pra ter noção do processo. “Vi no Polo Joalheiro, no curso, uma maneira de melhorar o meu trabalho, ai tu vais te apaixonando, tu vais vendo o conceito de biojoias diferente, porque eu trabalhava com semente, trabalhava com essas coisas, mas era aquela coisa mais biju, ai a gente muda o nosso olhar, esse olhar para a Amazônia”, afirma a designer.

Os insumos que são usados para confecção, ou seja, composição das biojoias podem ser as gemas minerais, gemas vegetais, os metais, por exemplo, o ouro; a prata e o cobre, chifres de boi e de búfalo, ossos de boi, até mesmo resíduos de madeira. Insumos da região que poderiam ser descartados no lixo, no ramo das biojoias acabam ganhando uma nova utilidade, que geram emprego e renda.

No ramo das biojoias a terceirização é algo comum, logo, os que fazem parte da cadeia produtiva tendem fornecer insumos e mão-de-obra de forma terceirizada, ou seja, tendem a montar a própria equipe que pode variar com necessidade. Nesta área a parceria é primordial para que todos tenham êxito, o designer tem que entender que nem tudo que está no papel é possível ser produzido.

Artesões, ourives, lapidadores e designers fazem parte da cadeia produtiva que está por trás da produção das biojoias. De acordo com Marcilene Rodrigues, conhecer o processo de produção das peças e importante para não puxar a orelha desnecessariamente do parceiro que faz parte da cadeia. Entre os profissionais inseridos na cadeia produtiva de Marcilene estão: Leila Salame; lapidária, Eugênio de Oliveira e Paulo Tavares; artesões e Joelson Leão; ourives, ambos citados pela designer, que admira a competência e a atuação de cada um na elaboração de uma peça.

Desde 2008 a designer participa de exposições e de feiras, no mesmo ano formalizou a marca de sua propriedade “Silabrasila Joias”. Por mais que integre o Projeto do Polo Joalheiro, nada a impede de fazer trabalhos independentes, a exemplo a marca e sua atuação no projeto “Garimpo” que reúne trabalhos de designers, em espaços cedidos por lojas que vendem biojoias, o mesmo ocorre no Polo Joalheiro, onde suas peças ficam expostas na loja Una.


Uma biojoia produzida é quase uma peça única, pois raramente uma peça é igual à outra, por ser artesanal. Logo, são produtos que demoram a ser produzidos.Para a designer, o prestígio da atividade vem ganhando força. “Reconhecimento do trabalho é saber que a gente não está dando murro em ponta de faca. Antes era um pouco desacreditado, e a gente perceber que aquilo que nós temos é muito bonito, é muito valorizado. É gostoso poder trabalhar com as coisas que te dá prazer, por estar divulgando a tua cultura", pontuou. Destacou ainda sobre a aceitabilidade das biojoias no mercado: “O Pará está redescobrindo o Pará, lá fora é uma aceitação fantástica, aqui está tendo essa redescoberta”.

A dedicação do Ourives Joelson Leão

Joelson além de trabalhar com o metal bruto, ouro e prata, também faz a incrustação paraense. É sua especialidade. Aplica resinas da terra, um diferencial. Dependendo da joia, compra matérias de outros produtores, como gemas e madeiras. 


“Os ourives entram com o trabalho pesado na formação de uma joia, é como um engenheiro que só desenha o prédio, mas quem constrói são os peões”. O relato é de, Joelson Leão, ourives há 19 anos. Não foi difícil conversar com ele. Pessoa bem acessível, apesar da correria. De boa conversa. Estava ocupado, apareciam clientes, tinha demanda. Mesmo assim a atenção foi ótima. Houve várias paradas entre chegada de clientes e serviços. Sua entrevista aconteceu no Polo Joalheiro, o lugar onde atende e trabalha.

Joelson além de trabalhar com o metal bruto, ouro e prata, também faz a incrustação paraense. É sua especialidade. Aplica resinas da terra, um diferencial. Dependendo da joia, compra matérias de outros produtores, como gemas e madeiras. É dedicado e gosta do que faz. Explica que o especial em suas joias são as cores. “Vai de cada um desenvolver bem o seu trabalho”. O ourives reconhece que cada um tem uma importância na cadeia produtiva de uma biojoia, mas na maioria das vezes o marketing e o reconhecimento moral e financeiro são dados apenas ao designer.

“O ourives não é designs de formação, mas acaba criando, redesenhando. Temos um papel fundamental com os designers e outros que participam da criação de biojoias. Temos a noção na prática, sabemos o que dá ou não pra fazer”, explica. A peça geralmente é aperfeiçoada pelos ourives. Muitas vezes o designer não tem um entendimento da execução prática da joia. Não entende as limitações. Por isso que o diferencial da biojoia é a construção da cadeia produtiva e a comunicação entre eles. O ourives acaba ajudando e em casos até cria. A biojoia acaba sendo um trabalho de equipe, onde cada um faz sua parte e essas relação é fundamental.


Joelson sustenta sua esposa e filho com a profissão de ourives. Faz parte do projeto do Polo Joalheiro e tem a sua oficina. Terceiriza seu serviço. Na sua carreia o apoio do Polo Joalheiro ajuda na estrutura, quando disponibiliza o espaço turístico.

“Apesar da taxa que temos que dar ao Polo, todo o suporte compensa, mas não tenho como depender apenas das vendas daqui”, explicou Joelson. No projeto, ele já participou de vários cursos de capacitação e suas joias são mais valorizadas por conta do espaço turístico, mas seu trabalho já tinha uma história.

Dá forma ao ouro e prata não é tarefa fácil. Uma peça dependendo de qual e, também, do nível do ourives dura em média de um a três dias. Há peças que levam uma semana para serem trabalhadas. O tempo, a prática vai acelerando o processo. Mesmo assim, não deixa de ser um trabalho que requer paciência. São várias etapas, cada um com seu grau de importância.

Para ser ourives tem que gostar, ter uma espécie de relacionamento com o metal. Joelson gosta, não trocaria de profissão, se vê como um artista, pois se inspira e cria. “O ourives é um artesão que trabalha com metal nobre, não deixa de ser uma arte”, completa Joelson.


Joias paraenses começam do artesanato de seu Eugênio

Seu Eugênio faz parte de um dos primeiros processos, a matéria prima. Ele dá formas geniais em braceletes, anéis, brincos e colares. Usa a madeira, chifre e osso de boi. Começou a trabalhar no artesanato de joias há dezesseis anos. é artesão,escultor e faz acessórios de moda. O mercado de luxo de vários outros países conhecem suas peças, mesmo sem ter a noção do lugar em que ela é feita.


Chuva, rua deserta, perigo, medo, ansiedade. Meus passos eram apressados. Afinal, as orientações eram: “Vem pela manhã, pois à tarde, depois da chuva é perigoso”. Não contava com uma manhã chuvosa. O bairro é o Tenoné, periferia de Belém. A Rua São José Ribamar, sem saneamento, em época de chuva, muita lama. De longe, avistei uma senhora na esquina sorrindo. “Você está procurando pelo Eugênio?”. Era esposa do entrevistado, Edileuza Pinto, com quem marcamos entrevista. Seu Eugênio tem uma ótima assessora. Respondi que sim, agradecendo, claro, por me esperar na esquina. Ela estava preocupada, pois estava chovendo e eu desconhecia o lugar. Perguntei se podia bater foto da rua. “Não, guarda é perigoso”, contestou. A frente da sua casa era diferenciada, com plantas, parede ainda não rebocada, portão de madeira. Já sabia que havia animais. Afinal, antes por telefone, não tinha como não escutar o galo cantando. Se esgoelando. Edileuza entra na frente para ver se o cachorro estava preso, então chega o entrevistado.


Eugênio Carlos de Oliveira, 57 anos, artesão. Peça fundamental na produção de joias Paraenses. Economia criativa, sucesso no Brasil e no exterior. O diferencial é justamente o trabalho feito à mão por artesãos, ourives e lapidários. Seu Eugênio faz parte de um dos primeiros processos, a matéria prima. Ele dá formas geniais em braceletes, anéis, brincos e colares. Usa a madeira, chifre e osso de boi. Começou a trabalhar no artesanato de biojoias há dezesseis anos. O mercado de luxo de vários outros países conhecem suas peças, mesmo sem ter a noção do lugar em que ela é feita.

Faz esculturas desde adolescente e sobrevive apenas do artesanato. No momento, especialmente das biojoias, terceirizando seu trabalho para a maioria dos Designs do Projeto do Polo Joalheiro, no São José Liberto. “Não pretendo ter outro tipo de trabalho, gosto do que faço”, afirma. E não houve dúvidas sobre essa afirmação. Expressava orgulho em todas as suas obras que mostrava. Fazia questão de exibir e explicar suas criações. Sua esposa ajuda no acabamento, juntamente com Adilson, que trabalha todo dia com ele.

O mestre Eugênio dá forma às matérias-primas, desenha e pinta. Um verdadeiro artista. Durante a entrevista, conheci um pouco de todos os seus trabalhos. Até um álbum de fotografias de suas peças ele me apresentou. Sensacional. Não tem como não admirar o diferencial das sua peças e de certa forma sentir orgulho, por ser um artista paraense.

Ao entrar em sua casa, conheci sua oficina, tive um choque de realidade. Deparei-me com uma oficina de estrutura mal acabada. A princípio quase uma casa abandonada. Duas tábuas ajudam atravessar para chegar a uma das partes da sua oficina. Quando chove tudo vira lama. Há uma mistura entre sua oficina e seu quintal. Comentei que ele tinha até tartaruga. “É jabuti”, corrigiu. Ele gosta do seu espaço, da natureza, já morou em São Braz. Não pretende mudar de endereço, não gosta de ir para o centro. Geralmente seus clientes que o procuram. Percebi na conversa uma autovalorização pelo seu trabalho, se orgulha do que faz e sabe da sua importância nas peças. Apesar de poucos conhecerem seu nome. Ele sabe muito bem quem é. Gosta do seu ambiente, do seu trabalho, da sua casa. Seu amor torna sua peças indispensáveis para a construção das joias.

Continuei fazendo aquela observação do espaço. A área de serviços ainda é das antigas, o antigo giral com panelas, o tanque, o chão bruto, com a chuva vira um lamaçal, galinhas por todos os lados e árvores. Do outro lado é uma espécie de depósito. De lá ele vinha com várias peças para me mostrar. Ele entende, sabe onde está peça a peça. A cada parada para admirar seu trabalho, seu Eugênio respondia minhas perguntas. Seu Eugêncio é um grande conhecedor naquilo que faz, tem a prática, anos de experiência peça fundamental, assim como um designer, ourives ou qualquer outro que faça parte da produção de uma biojoia.

“Logo que comecei com as biojoias, a Xuxa no seu auge usou uma pulseira minha, abriu a boca dizendo que comprou na França, mal sabe da onde veio. Made in Tenoné, brincou”. O artesanato de Eugênio conquistou o conceituado estilista francês Yves Saint Laurent, que sempre fazia encomendas e vendia para classe alta. Após seu falecimento sua empresa não entrou mais em contato com ele. 

Percebi com a história de seu Eugênio, o quanto nossos artistas são esquecidos por nós mesmos. Seu trabalho percorreu e ainda percorre o mundo. A valorização de um produto na maioria das vezes é dada para os conceituados de fora. É uma inspiração a história de simplicidade de um artesão que ama o que faz. É pé no chão. Sabe como as transações do mercado funcionam. O que deixava irritado, hoje não deixa mais. Eugênio de Oliveira. Grava esse nome. Mestre do artesanato. Cria peças que sai de Belém do Pará, precisamente do bairro do Tenoné, para o mundo.



sábado, 29 de outubro de 2016

A ciência de Paulo Tavares

Na produção de joias do Pará, Paulo é um grande nome. A mídia nacional sempre o procura. São 15 anos de pesquisa com gemas orgânicas. Um diferencial para as joias paraenses. Ele utiliza vegetais que seriam descartados e transforma em pigmentações, que em seguida é transformado em pedras.  Um verdadeiro cientista, conhecimento que transforma. 

Paulo Tavares é um idealista. Pensa na sustentabilidade. Nascido em Ponta de Pedras, teve um contato especial com a natureza. “Vivia como índio”, conta. Conversando com ele, se tira uma aula de conhecimento. É um pesquisador, um cientista. Entende de Química Orgânica, Botânica, Arqueologia, Biologia. 

Já encantada com tanto conhecimento ele mesmo pergunta. “Você vai perguntar sobre meu grau de escolaridade, não é? Todos que me entrevistam perguntam. Não tenho grau de escolaridade, estudei apenas dois anos em escola de interior”, confessou. Naquela época, no interior, a escolaridade era apenas para o voto, bastava saber escrever o nome. Sua primeira profissão foi de ourives. Geralmente não são profissionais que se dediquem ao estudo. “Todo conhecimento que tenho é do que corro atrás”, explica.
Na produção de joias do Pará, Paulo é um grande nome. A mídia nacional sempre o procura. São 15 anos de pesquisa com gemas orgânicas. Um diferencial para as joias paraenses. Ele utiliza vegetais que seriam descartados e transforma em pigmentações, que em seguida é transformado em pedras. 

“Daqui a algum tempo a maioria das gemas minerais vão acabar, não são renováveis, penso nisso, no futuro”, ressaltou, Paulo. Açaí, pimenta, jambú, urucum, mandioca, pau-brasil, pupunha, etc. Dão origem a pedras de diversas cores, que se semelha com as originais e o melhor, são renováveis.

Além da admiração pelas cores regionais, preza pelo reflorestamento e reaproveitamento de materiais orgânicos “Eu não desmato, não retiro da natureza, reaproveito, planto mudas, faço o que gosto. Se trabalhasse em um escritório de paletó, acho que nem estaria vivo” brinca.

Sua vida é dedicada à natureza. As gemas não estão voltadas ao setor comercial. Paulo também colhe materiais recicláveis, não tem vergonha do que faz. Não possui renda fixa, vive de consultoria, dos cursos que promove no Polo Joalheiro para todas as áreas de produção das biojoias. “Vendemos para os designs, mas não em escala produtiva, gasto mais com as pesquisas do que ganho,” garantiu.. Paulo vai continuar com seu sonho, de tornar o mundo mais agradável com a natureza. Deixou uma lição para nós, que apenas falamos de sustentabilidade, mas não praticamos.

O olhar de Leila Salame

Leila executa uma profissão rara no mercado paraense, os materiais de manuseio são caros, não vendem no Pará. O lapidário trabalha com gemas orgânicas minerais, conhecida popularmente por pedras preciosas. A pedra bruta é transformada em diversas formas e tamanhos para dar brilho nos cordões, anéis, pulseiras, braceletes e brincos. 

A vida de quem depende exclusivamente das vendas não é fácil. Requer dedicação, paciência, contar com a competência de seu trabalho, experiência e muitas vezes com a sorte na economia. “Menina, com essa crise os negócios vão mal, tenho que pagar fornecedores, vou ter que fazer uma promoção para conseguir vender e pagar as dívidas”. A preocupação é de Leila Salame, lapidária desde 1992. Ela estava apreensiva, pois tem uma filha pra sustentar, e é mãe solteira.

Leila executa uma profissão rara no mercado paraense, os materiais de manuseio são caros, não vendem no Pará. O lapidário trabalha com gemas orgânicas minerais, conhecida popularmente por pedras preciosas. A pedra bruta é transformada em diversas formas e tamanhos para dar brilho nos cordões, anéis, pulseiras, braceletes e brincos. 

O trabalho de Leila é uma tarefa minuciosa, tem pedras minúsculas, mas bem trabalhadas. São várias etapas até o produto final, precisa das medidas certas. Leila conta que se errar com a mão tem que polir e refazer tudo de novo. “Tenho que me concentrar para lapidar uma pedra, se não perco material”, conta.

Mesmo com a correria, a lapidária conseguiu um trabalho de destaque na lapidação de gemas orgânicas. Seu principal diferencial na lapidação nacional são os traços marajoaras que caracteriza a região e embeleza uma joia. 

“Eu tenho muitas ideias para o design criativo, mas uma lapidação comum já é bem trabalhosa. Não tenho tempo pra fazer criações, testes. Tenho que pensar na produção, é meu sustento”, revela. Apesar disso, a lapidação é uma paixão para ela. Ama os materiais que utiliza, conhece detalhadamente cada um", explicou.

Como Leila é conhecida no mercado, a maiorias dos fornecedores lhe procuram para vender os minerais. Ela já tem um estoque, que facilita seu trabalho. Assim, quando aparecem as demandas, as pedras já estão disponíveis, pois nem sempre se consegue a pedra desejada. A lapidária não deixa de tocar em um assunto importante, que é a dificuldades de adquirir a matéria prima.

 “O Pará é muito rico, tem quase todos os tipos de gemas minerais, porém a exportação para o exterior é pesada. Exportam toneladas e nós ficamos com quase nada, temos dificuldades nisso”, lamenta. Ainda assim, relatando suas dificuldades Leila não pensa em outra profissão. “Se as pessoas não gostassem do meu trabalho não teria motivo pra gostar, faço com dedicação para que as pessoas gostem também”, concluiu.

Veja histórias de alguns profissionais da cadeia produtiva



sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Inclusão: indústria investe em sonhos

Por: Daniele Maciel

A séria de reportagem mostra a indústria como fonte de inclusão social. Em reportagem especial, as histórias de superações de Pessoas com Deficiência junto à cooperação da indústria, por meio do seu núcleo de capacitação, Senai, mostra a importância da inclusão na sociedade.   Outro exemplo é o deficiente visual, Mellyng Quemel, que após um curso de informática para cegos, do  SENAI  aprendeu a viver a partir dos outros sentidos.
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O mercado de trabalho é fundamental para inclusão de Pessoas com Deficiência (PcD), não apenas para elas, mas também para empresas, instituições e sociedade no geral. A inclusão de profissionais no ambiente de trabalho cria oportunidades das empresas criarem novos negócios e possibilita mudança de vida para as PcD's. 

O compromisso de capacitar pessoas para o mercado de trabalho, por acreditar no potencial de cada um é realizado há seis décadas. É através do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), que homens e mulheres, sendo eles pessoas com deficiências (PCD’s) ou não, encontram a possibilidade de ser protagonista da sua história, por meio dos mais de 240 cursos de formação profissional oferecidos pela entidade.
 Fonte: SENAI

A procura pelos cursos aumenta a cada ano. Em 2015, o número de pessoas que se declaram com deficiência correspondeu a mais de 500 inscritos. Quantitativo cresce desde 2009, com a implantação do programa SENAI de Ações Inclusivas (PSAI)  no Pará.  Ao longo desses oitos anos cerca de 2.600 pessoas com deficiência intelectual, visual, auditiva, física e múltipla, realizaram alguma capacitação profissional. O programa foi criando para estimular as pessoas com deficiência, contribuindo para que as empresas possam cumprir as cotas estabelecidas na Lei Federal nº 8.213/91, chamadas “Lei de Cotas”, que determina a contratação de funcionários e aprendizes com deficiência.



A aceitação dos cursos se dá pela parceria com todas as entidades que trabalham com pessoas com deficiência firmada pelo SENAI chamado de Grupo de Apoio Local. Entre os parceiros estão a Fundação Pestalozzi, Abrigo Especial Calabriano e COEES. Os cursos de Informática para Cegos e o de Panificação, estão entre os mais procurados. Segundo a gestora de Responsabilidade Socioambiental, Flora Barbosa, não há impedimento para realização da capacitação. Cada um deve avaliar o seu potencial. “Só as pessoas com deficiência vão saber o potencial delas, o que ela pode ou não pode fazer. Não somos nós que vamos julgar isso. A gente só dá a abertura e facilita o acesso, em todas as questões: metodológica, didática do material adequado, as próprias máquinas e equipamentos, se for o caso a gente faz adequações”, disse.







Superação é a palavra de ordem na vida das pessoas com deficiência. Superam limites e preconceitos. Após participar do curso de Informática para cegos Melhym Quemel, deu um novo rumo a sua vida. A transformação teve início após o curso de informática iniciado em 2013, de lá pra cá muita coisa mudou, e para melhor. Para Flora Barbosa, superar é uma busca incessante das pessoas com deficiência. “As pessoas com deficiência têm essa necessidade de superar, de mostrar o tempo todo, seja pra conseguir um bom emprego, um bom cargo, uma boa posição. Elas têm que estar provando o tempo todo que podem. Já tem o hábito de superar”, destacou. Com alegria pontuou ainda a capacidade que eles têm de estimular os demais colegas de turma ditos normais. 



Para informar as empresas da quantidade de pessoas capacitadas e que podem ser absorvidas pelo mercado de trabalho, o SENAI desenvolveu um projeto que oferece consultorias para as empresas. A consultoria é uma via de mão dupla, cuja finalidade é atender tanto as empresas que necessitam de profissionais, quanto o direcionamento do profissional para o mercado de trabalho. O serviço prestado facilita o entendimento das empresas ao admitir um funcionário, uma vez que muitas têm receio de comprometer o próprio funcionário recém-admitido.


Com a realização dos cursos o empreendedor que estava adormecido desperta e vira a página para começar uma nova história de vida. É assim que se sentem as pessoas que são capacitadas pela entidade, com o desejo de montar o seu próprio negócio, por exemplo, uma  panificadora. Sonhos que devem ser transformado em realidade por centenas de Joãos, de Marias, de Victores, de Raimundas, e tantos outros. De acordo com a gestora, todos independente da condição profissional podem apostar no ser empreendedor. “O empreendedorismo é a bola de vez. Todos nós temos que ser”, destacou Flora Barbosa.



Veja mais matérias da série 




                               

Paraense com Síndrome Down é destaque nacional

Por: Michele Lobo
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O paraense Victor Almeida epresentou o Senai do Pará, na Olimpíada do Conhecimento, em Brasília, nos dias 10 a 13 de novembro. O evento é a maior competição de educação profissional das Américas ficando em terceiro lugar. O jovem concorreu na categoria Panificação para Pessoas com Deficiência (PcD). 
Victor se preparou de segunda a sexta para a Olimpíada do Conhecimento, com a turma do Curso de Panificação - Senai - Cedam

Victor Almeida, jovem de 23 anos, é um exemplo de como a capacitação para o mercado de trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de uma PcD. O jovem é um idealista. Desde cedo aprendeu a superar suas limitações e a se dedicar em tudo que faz. Seis horas da manhã, o aluno sonhador, já está acordado e pronto para mais um aprendizado. Ele vai de segunda à sexta ao curso de Panificação e Confeitaria, do SENAI.

Sorridente e brincalhão, o estudante cumprimenta todos quando chega. Seu sonho é montar uma padaria e está se qualificando para isto. Victor fala para todos que está fazendo o curso e já  faz o convite para comprarem o  pão na sua futura padaria, que será chamada "Pão do Victor".

Há um ano, Victor entrou no curso de panificação e confeitaria do SENAI, em uma turma com dez alunos com Síndrome Down. Chegando todo o dia meia hora mais cedo, ele chamou atenção do seu professor pela dedicação e força de vontade, além de seu carisma. Pelo potencial do aluno, o curso de mais ou menos três meses foi prorrogado, assim o SENAI decidiu investir em seu talento. Hoje, Victor faz seu treinamento em outra turma.


A Interlocutora Regional do PSAI (Programa SENAI de Ações Inclusivas), Flora Barbosa, relata que o SENAI é uma empresa privada que está para servir a Federação das Indústrias do Estado do Pará (Fiepa) e ajudar no progresso do estado. “Independentemente da deficiência, nós capacitamos pessoas para o mercado de trabalho”, relatou.

                                           

O jovem abraçou a oportunidade, destacou - se e em novembro de 2016 representou o Pará nas Olimpíada do Conhecimento, evento patrocinado pela indústria brasileira, que reúne estudantes de cursos técnicos e de formação profissional do SENAI e dos institutos federais de educação profissional, científica e tecnológica (IF).

O aluno sabe do grande desafio  que tará que enfrentar, assim todos os dias vem intensificando seu treinamento, para fazer o seu melhor na competição e deixar sua marca. Na etapa final de trenamento, além do treinar no SENAI, ele também pratica tudo na sua casa,  com auxílio de sua mãe.

Victor Almeida representará o Pará na Olimpíada do
Conhecimento
"Eu gosto muito daqui do SENAI, o professor Otaviano é muito legal. Ele é brincalhão e gente boa e está me ajudando muito junto com meus pais".

Em seu dia a dia, Victor está sempre de bem com a vida, não percebe os preconceitos em sua volta. Já sofreu Bullying, já foi rejeitado, mas sempre tirou de letra. 

Ainda pequeno, Victor já se destacava na escola para pessoas com deficiência, sua mãe tentou colocar em uma escola com outros alunos, na época o diretor disse que a escola não estava preparada para alunos especiais. A partir de então, eram apenas os dois lutando e superando os obstáculos. 

Apesar de todas as dificuldades de inclusão, o jovem sempre se destacou. Com o desempenho de sua mãe que o ensinou a ler e escrever, o aluno a cada dia demonstra interesse em aprender cada vez mais.

Victor procura sempre estar ativo, já fez curso de teatro, violão. Já participou de peças teatrais e é empenhado em tudo que faz. Pretende morar sozinho e cada vez mais quer conquistar sua independência. Idealista, Victor sempre diz às pessoas que quer ser alguém na vida e se esforça para isso. Para ele, a Olimpíada do Conhecimento é apenas uma etapa de muitas vitórias que ainda estão por vir.



PCD's chegam ao mercado e ganham dignidade

Por: Tábita Oliveira
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Para quem não tem um familiar que apresente algum tipo de deficiência, talvez seja difícil acompanhar o quanto e como é desenvolvido o trabalho de inclusão a essas pessoas ao mercado de trabalho. 

Vale ressaltar que a realidade de hoje é uma consequência da Lei nº 8.213, de julho de 1991, também conhecida como Lei de Cotas, que prevê o preenchimento de 2% a 5% das vagas do quadro de funcionários com reabilitados ou com deficiência. A Lei na verdade surgiu para conscientizar empresários de que a pessoa com deficiência também tem condições de desenvolver um bom trabalho e garantir que a mesma seja cumprida.


No Pará, o grande responsável pela inclusão dessas pessoas com deficiência ao mercado de trabalho é o SINE - Sistema Nacional de Emprego, programa do Governo Federal, coordenado pelo Ministério do Trabalho e Previdência - MTPS em parceria com a Seaster, para intermediar a mão de obra, orientar e sensibilizar empresas envolvidas sobre a Lei de Cotas. No Estado, existem 46 postos do SINE e 1 posto direcionado ao atendimento a pessoa com deficiência, que está integrado ao espaço físico do CIIC - Centro Integrado de Inclusão e Cidadania, localizado em Belém.

O atendimento do SINE é realizado por meio do Portal Mais Emprego, do Ministério do Trabalho e Previdência Social. As empresas que sinalizam vaga para as PCD's fazem um cadastro no SINE para indicar o perfil que procura, em seguida, o SINE lança no Portal e os candidatos cadastrados que estão dentro deste perfil recebem uma carta de encaminhamento para entrevista, onde deverão também levar seus documentos como currículo, laudo médio, carteira de trabalho, RG, CPF e comprovante de residência. 

Para cada vaga disponível no sistema, são indicados três candidatos pelo Sine. Há empresas que além da entrevista, ainda fazem uma avaliação prática. Após a contratação, a empresa retorna ao SINE com a carta de encaminhamento do candidato para finalizar a contratação do mesmo. 

Em 2015, foram inseridas 452 pessoas no mercado de trabalho. E de janeiro a agosto de 2016 o Sine recebeu 2.990 pessoas atendendo em diversos serviços de orientação e encaminhamento para o mercado de trabalho, ao qual 184 foram inseridos e 108 novos cadastros no portal Mais Emprego. Mesmo o país passando por uma crise econômica, o SINE está sempre recebendo solicitação das empresas para encaminhamento de candidatos.



O promotor de justiça, Waldir Macieira, da promotoria dos Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência, do Ministério Público do Pará, explicou que o responsável pela fiscalização para que as leis de inclusão sejam cumpridas é o Ministério Público do Trabalho juntamente com a Delegacia Regional do Trabalho. O Ministério Público do estado tem o papel de fiscalizar o entorno da indústria, como calçadas e transporte, verificando a acessibilidade.


Para Waldir Macieira, a oportunidade no mercado de trabalho da pessoa com deficiência é fundamental. "Você tendo trabalho, você vai ter dinheiro, economia, você vai ter dignidade e respeito da sociedade por estar desenvolvendo uma atividade de relevância e de desenvolvimento e as pessoas com deficiência precisam dessas oportunidades para ser efetivamente incluída socialmente no nosso país", ressaltou o promotor.

Dia D fomenta mais ainda a inclusão de PCD's ao mercado


Josiane Guimarães - Coordenadora CIIC
Para intermediar e acelerar a contratação de pessoas com deficiência para o mercado de trabalho, foi instituído o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, todo dia 21 de setembro, também conhecido como Dia D. 

Em todos os estados brasileiros houve uma grande ação, onde empresas sinalizaram sua demanda ao Sine e a partir de uma aproximação por meio de entrevista avaliaram os candidatos. É neste momento que muitos contratações são realizados. A ação já acontece pelo terceiro ano consecutivo no Brasil e o segundo ano consecutivo no Pará, que contou com a participação de 28 empresas.

"Nós temos que ver o potencial dessas pessoas, olhar para o curriculum dessa pessoa e não para a deficiência e as empresas tem que estar preparadas para receber estas pessoas. E o DIA D é muito importante para fazer essa inclusão, estamos fazendo a nossa parte. Os PCD's provam a cada dia o potencial de superação deles. Nosso trabalho é esse de sensibilizar as empresas para que elas vejam o profissional e não uma pessoa com deficiência" explica Josiane Guimarães, coordenadora geral do CIIC.

Muitas dessas pessoas que o CIIC atende já vem com uma qualificação profissional, como é o caso do jovem Vitor Almeida, 23 anos, que faz parte do curso de panificação do Senai - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, polo de referência em inclusão que a mais de 60 anos atua no estado.

A programação de eventos do CIIC voltados para o fomento do trabalho formal e informal, termina no dia 05 de outubro com a primeira Feira de Talentos, onde as pessoas com deficiência do setor informal vão apresentar seus trabalhos em diversas áreas como moda, artesanato, culinária e muito mais, no horário de 8h as 12h. O objetivo é gerar renda a essas pessoas do mercado informal.